De todas as coisas que você poderia estar fazendo no quarto para viabilizar a concepção de um bebê, uma atividade crucial não é aquela que você está pensando. Sabemos o quanto uma noite de sono ruim atrapalha nossa capacidade de funcionar bem no dia seguinte e, se isso for recorrente, o quanto pode impactar nossa saúde. E, como discutimos antes, sua fertilidade depende de sua saúde geral. Mas, o sono impacta mesmo a fertilidade?
“Ritmo circadiano” é um termo usado para o ciclo natural de 24 horas de muitos processos do corpo, que responde aos sinais de luz e escuridão do ambiente. Esse ciclo regula a intrincada maquinaria que impulsiona a “homeostase”, ou seja, o equilíbrio do corpo – da frequência cardíaca à secreção de hormônios e metabolismo e até mesmo a motivação para realizar atividades e seu humor. Esse ciclo e essa homeostase são importantes para ativar a necessidade de dormir e nos dar aquele empurrãozinho para acordar. Se você mexer com esse ciclo, você mexe com tudo, incluindo sua fertilidade. Vejamos alguns estudos importantes que desvendaram a conexão entre sono e fertilidade.
Uma revisão da literatura científica analisou dezenas de estudos explorando a relação entre a fertilidade e o ritmo circadiano em seres humanos e animais. A revisão conclui que:
- o ritmo circadiano é gerado no nível celular,
- cada pessoa (ou animal) tem uma assinatura única de proteínas coordenando seu ritmo circadiano,
- interrupções neste ciclo natural afetam a fertilidade em seres humanos e animais.
Um estudo randomizado controlado de 2017 analisou 981 homens para determinar a conexão entre a privação do sono na qualidade e saúde dos espermatozoides. Os grupos foram divididos conforme dois fatores:
- Horário de dormir
- Grupo A: 20–22:00
- Grupo B: 22–0:00 (meia-noite)
- Grupo C: Depois da meia-noite
- Duração do sono
- Grupo 1 (curta): 6 horas ou menos
- Grupo 2 (mediana): 7–8 horas
- Grupo 3 (longa): 9 horas ou mais
O estudo analisou os parâmetros do sêmen – contagem, motilidade e morfologia (forma) do esperma – bem como a presença de anticorpos antiesperma. Os anticorpos antiesperma são produzidos por células do sistema imune que identificam os espermatozoides como invasores e tentam eliminá-los, contribuindo para a infertilidade.
Curiosamente, as durações de sono curtas ou longas, bem como as horas de dormir tardias, correlacionaram-se com baixas motilidade, taxa de sobrevivência e contagem. Houve aumento da produção de ASA em homens com sono curto. Um outro estudo, publicado em 2020, analisou 970 pacientes e obteve resultados semelhantes.
Sabemos que a inflamação pode afetar a produção de esperma. Um estudo de 2015 revisou evidências que ligam a presença de citocinas – produzidas por células do sistema imune e que promovem a inflamação – acima do normal a alterações negativas no esperma. Infelizmente, muitos homens inférteis sofrem de inflamação aguda, crônica ou subclínica. Mas o que isso tem que ver com o ritmo circadiano?
Um estudo de 2016 explorou a relação entre o sono e a presença de inflamação. Eles analisaram a duração e a qualidade do sono, a latência do sono (o tempo que leva entre ir para cama e cair no sono) e a hora de dormir. Mais uma vez, o sono curto (6 horas ou menos), dormir após a meia noite, e latência do sono perturbada prejudicaram a qualidade dos espermatozoides na presença de inflamação. Além disso a inflamação sistêmica resulta em aumento das espécies reativas de oxigênio e todas as consequências associadas inclusive a fragmentação do DNA do esperma. Mas… você não saberia se tivesse inflamação? Não necessariamente. Muitos desses homens não apresentavam sintomas externos. Essa inflamação insidiosa, conhecida como subclínica, pode afetar tanto a fertilidade natural quanto o resultado da fertilização in vitro.
O processo de produção de espermatozoides é impulsionado pelo delicado equilíbrio de vários hormônios reprodutivos como a testosterona, o hormônio folículo-estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH). Infelizmente a privação do sono também pode perturbar esse equilíbrio.
Um estudo de 2011 examinou a relação entre a privação do sono e os níveis de testosterona e mostrou que, nos dias após sessões de apenas 5 horas de sono, os níveis eram 10 -15% menores do que após uma noite de sono de 8 horas. Além disso, já foi demonstrado em ratos que distúrbios do sono prejudicam a secreção dos hormônios sexuais, diminui a motilidade espermática e causa a morte das células de Leydig (células do testículo que produzem o hormônio LH que, por sua vez, induz a produção de testosterona, entre outros hormônios). É importante lembrar que níveis baixos de testosterona estão associados a mais do que apenas infertilidade pois afetam a saúde sexual, a obesidade e massa muscular e a saúde do coração. E não faltam evidências que associaram o trabalho noturno à uma menor qualidade do esperma.
Moral da história: vários fatores podem afetar a qualidade dos seus espermatozoides, mas um que você pode controlar é quando você vai para a cama, a duração e a qualidade do seu sono. Obter de 7 a 8 horas de ininterruptas de sono de qualidade é fundamental para melhorar sua fertilidade. Existem maneiras de melhorar o sono, mas falaremos sobre isso em um outro post. Fiquem de olho!
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Referências
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