Tratamentos anticancerígenos agressivos como quimioterapia e radioterapia, podem gerar efeitos colaterais deletérios sobre os testículos e ovários e são considerados as causas iatrogênicas (causadas por tratamentos médicos) mais comuns de perda de fertilidade em pacientes diagnosticados com câncer. Em 2015, a OMS destacou que, em todo o mundo, existem 14 milhões de sobreviventes após diagnóstico de câncer, dos quais cerca de 5% (700 mil) têm menos de 40 anos. Essa alta incidência de neoplasias em indivíduos em idade fértil, aliada ao progresso nos protocolos cada vez mais capazes de elevar as taxas de sobrevida e expectativa de vida, tem levantado preocupações com a preservação da fertilidade destes pacientes. A preservação da fertilidade envolve procedimentos para garantir óvulos, tecido ovariano ou espermatozoides que serão preservados, antes que o paciente seja submetido a tratamentos contra o câncer e, assim, permite que os pacientes tenham formas de garantir a possibilidade de reprodução após superarem o câncer.
Diante de um diagnóstico de câncer, pacientes e médicos frequentemente se sentem apressados para iniciar o tratamento, enquanto as decisões que impactam a preservação da fertilidade são colocadas em segundo plano. Toda essa pressa tem lógica: afinal, as ações que poderiam preservar a fertilidade do paciente nem sempre podem ser realizadas imediatamente ou em curto prazo e qualquer demora em iniciar o tratamento pode prejudicar os resultados de controle do câncer. Por outro lado, essa pressão pode contribuir para o arrependimento pós-tratamento, o que pode afetar a qualidade de vida do sobrevivente de câncer no médio-longo prazo. Para piorar esse quadro, muitos pacientes sequer são informados sobre os impactos dos tratamentos de câncer na fertilidade e sobre as estratégias que poderiam adotar para preservar sua fertilidade.
Alguns estudos identificaram barreiras que podem influenciar a aceitação dos procedimentos de preservação da fertilidade junto aos sobreviventes de câncer, incluindo o próprio paciente, o profissional de saúde e os sistemas de saúde público e privado. Uma delas é o isolamento em que atuam as áreas médicas. Muitos oncologistas admitiram desconhecer a relevância de informar o paciente sobre a preservação da fertilidade dentro da sua prática e entendem que essas discussões não são de sua responsabilidade. Além disso, vários deles relataram se sentirem desconfortáveis e despreparados para discutir o assunto por razões como “não ter conhecimento suficiente sobre os riscos”, ”não entender os processos de preservação da fertilidade”, “não ter noção dos prazos de como os processos de preservação funcionam”, “ter pouco ou nenhum conhecimento das tecnologias disponíveis ou seus custos” e “não saber para onde ou como encaminhar os pacientes”. Dois estudos destacaram que os jovens sobreviventes de câncer muitas vezes desconhecem totalmente as opções de oncofertilidade e atribuem tal falta de conhecimento a estratégias limitadas e não padronizadas de aconselhamento reprodutivo, má provisão de informações, além de suporte e assistência inadequados pelos profissionais de saúde no processo de tomada de decisão dos pacientes.
Outro exemplo relevante das barreiras que enfrentam as discussões sobre preservação da fertilidade, concerne aos pacientes menores de 18 anos, onde as decisões de preservação da fertilidade necessariamente envolvem os pais/responsáveis. Alguns estudos revelaram que muitos pacientes menores não se sentem incluídos nestas decisões, apesar de relatarem desejar participar das deliberações relacionadas à sua saúde reprodutiva futura. E também demonstraram que as preocupações com a saúde reprodutiva destes pacientes comumente diferem daquelas de seus pais, e que os pais frequentemente subestimam as preocupações de seus filhos sobre o impacto do câncer na fertilidade.
No final das contas, apesar da disponibilidade de estratégias de preservação da fertilidade, apenas 4% a 41% das mulheres e 11% a 43% dos homens concretizam a preservação da fertilidade antes do tratamento do câncer. A insuficiente educação e colaboração interprofissional entre oncologistas e especialistas em reprodução, certamente já foi levantada por vários autores. Esses elementos são problemas que deveriam ser tratados no intuito de melhorar a comunicação entre essas áreas médicas e entre médico-paciente e, assim, auxiliar na melhora da qualidade de vida reprodutiva do paciente sobrevivente de câncer. Acreditamos que a inclusão de um aconselhamento ao paciente é imperativo pois, uma atuação oportuna e abrangente sobre a preservação da fertilidade, junto ao paciente, tem sido associada a menor conflito e menor arrependimento sobre as decisões envolvendo a preservação da fertilidade de sobreviventes do câncer, com consequente melhora na qualidade de vida destes indivíduos.
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