Ao longo da última década, uma explosão de pesquisas têm demonstrado que a fertilidade de um homem pode ser também um indicador valioso de sua saúde geral, bem como suas chances de desenvolver problemas como doenças cardiovasculares, diabetes ou outras doenças em um futuro próximo. As informações que serão listadas a seguir, podem parecer um pouco extensas à primeira vista, mas são importantíssimas para os homens, já que muitos evitam procurar atendimento médico para a prevenção e tratamento de doenças.
A associação entre a fertilidade de um homem e sua saúde geral não deveria ser surpreendente pois quase 25% do genoma masculino está ligado a processos relacionados à fertilidade. Quando tanto material genético está envolvido, começa a fazer sentido que haja sobreposição entre a fertilidade e outras áreas relacionadas à saúde. Vale lembrar que fatores prejudiciais à qualidade do sêmen (por exemplo, uso de tabaco, obesidade, ou uso excessivo de álcool) também podem afetar negativamente a saúde geral do homem. Um exemplo clássico é a disfunção erétil, que é um fator conectado à infertilidade é um sinal de possível desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Vários estudos já estabeleceram uma conexão entre parâmetros anormais do sêmen e a presença de problemas de saúde potencialmente graves, porém silenciosos! O estudo de Kolettis & Sabanegh em 2001, envolveu 536 homens inférteis e revelou que problemas como câncer, diabetes e anormalidades genéticas estavam presentes em 6% dos homens submetidos a uma avaliação completa de fertilidade. Usando o Índice de Comorbidade de Charleston, que avalia o risco de mortalidade baseado em 22 fatores de saúde como doenças cardíacas, diabetes, câncer, hipertensão e doenças hepáticas, o estudo de Salonia de 2009 descobriu que a diminuição da qualidade dos espermatozoides está associada a um maior risco de desenvolvimentos dessas doenças. Em 2015, Eisenberg e colegas confirmaram os achados das pesquisas anteriores em 9.387 homens que apresentavam anormalidades na contagem, morfologia e motilidade dos espermatozoides. O estudo de Jensen em 2013 também observou que essas anormalidades estavam associadas a distúrbios do sono.
Infertilidade e o risco de problemas de saúde futuros
Em 2015, Eisenberg e colaboradores analisaram 36.887 homens saudáveis com idade média de 33 anos e descobriram que aqueles com problemas de fertilidade tinham uma chance 30% maior de desenvolver diabetes e um risco 48% maior de desenvolver doença cardíaca isquêmica do que seus pares férteis durante o período de estudo, que foi de 8 anos. Em 2018, Wang e equipe acompanharam homens saudáveis por 7anos e mostraram que aqueles com problemas de fertilidade eram 3 vezes mais propensos a desenvolver distúrbios imunológicos como: lúpus eritematoso (risco 3 x maior); artrite reumatoide (risco 56% maior), tireoidite (risco 60% maior) e esclerose múltipla (risco 91% maior). Homens com varicocele também apresentaram um risco 22% maior de desenvolver problemas cardíacos e um risco 77% maior de serem diagnosticados com diabetes em comparação aos seus pares férteis.
Além dessas preocupações gerais de saúde, os homens com problemas de fertilidade também demonstraram ter um risco significativamente maior de desenvolver tumores tais como: câncer de tireoide (risco 52% maior), câncer de próstata (risco 78% maior), leucemia (risco 82% maior) e câncer de bexiga (risco 229% maior). O estudo de Eisenberg de 2015 que revelou esses números preocupantes acompanhou 76 mil homens saudáveis com problemas de fertilidade por 8 anos. O estudo de Walsh em 2010, que acompanhou 22.562 homens, mostrou que homens com infertilidade eram 2,6 vezes mais propensos a serem diagnosticados com câncer de próstata grave. E, em 2016, Hanson e colaboradores estudaram 40.826 homens e demonstraram que aqueles com oligospermia (<15 milhões de espermatozoides/mL) eram 11,9 vezes mais propensos a desenvolver câncer testicular do que seus pares férteis. O câncer de testículo é 20 vezes maior entre homens com sinais de infertilidade.
Infelizmente, em 2016, Latif e colegas mostraram que homens com problemas de fertilidade têm maiores taxas de hospitalização e maior risco de mortalidade. Em 2017, Glazer e colaboradores acompanharam 11.935 homens por 22 anos e descobriram que o risco de morte durante o período foi 2,3 vezes maior em homens que tiveram duas ou mais anormalidades nos testes de análise do sêmen.
A infertilidade masculina pode predispor os homens à ansiedade e depressão devido a resultante elevação dos níveis de cortisol que é, também, fator de risco para hipertensão/doença cardíaca; colesterol elevado, diminuição do controle glicêmico; diminuição da função imunológica/aumento do risco de infecções; problemas de sono; anormalidades digestivas; e problemas na memória e concentração.
Atualmente a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva recomenda que todos os homens com testes de fertilidade anormais recebam uma avaliação completa de saúde. A antiga abordagem de ignorar os resultados anormais da análise do sêmen desde que houvesse espermatozoides suficientes para prosseguir com os tratamentos de fertilidade feminina, não é mais considerada aceitável. A recomendação atual não apenas ajuda a otimizar as chances de fertilidade do casal e a saúde dos filhos futuros, mas também é uma oportunidade de ouro para avaliar a saúde geral do parceiro masculino. Afinal, homens com problemas de fertilidade correm um risco significativo de abrigar problemas de saúde silenciosos e/ou de desenvolver problemas potencialmente graves no futuro.
Durante anos, o foco da fertilidade esteve principalmente no lado feminino, mas agora sabemos que os parceiros masculinos não devem ser ignorados. Esse homem merece uma saúde melhor para si e para a família que está construindo!
A MF Fertilidade Masculina está sempre atualizada com as mais recentes tecnologias e desenvolvimentos científicos e terá o maior prazer em conhecê-lo para fornecer informações e soluções para sua fertilidade e saúde geral.
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