Por uma variedade de razões socioeconômicas, homens e mulheres estão esperando mais tempo para começar uma família. Ao contrário das mulheres que eventualmente têm sua fecundidade bastante diminuída a partir dos 40 anos, a espermatogênese (processo de produção de espermatozoides) nos homens, geralmente continua ao longo da vida. Mas será que o homem pode mesmo se despreocupar sobre sua idade em relação à fertilidade?
Na realidade, esse cenário não é tão simples, pois os parâmetros do sêmen começam a piorar após os 40 anos. O estudo de Veron e colaboradores de 2018 avaliou os parâmetros do sêmen em 11.706 homens com idade média de 35,9 anos. A média do número de espermatozoides móveis diminuiu de 126,0 milhões para homens com menos de 40 anos para 80,69 milhões nos homens com mais de 40. E a motilidade caiu de 44,9% para 34,7% na faixa etária mais velha. Homens mais velhos também apresentam menos espermatogônias (células que formarão os espermatozoides) e com isso, há uma visível redução na contagem de espermatozoides. Além disso, o número de células de Leydig (que produzem testosterona) diminui e, consequentemente, os níveis de testosterona do homem também diminuem.
Os casais envolvendo homens mais velhos também levam mais tempo para conceber naturalmente. Já as taxas de gravidez com fertilização in vitro padrão, são mais baixas em homens mais velhos, embora esse efeito seja atenuado quando a parceira é jovem (consistente com a teoria de que os óvulos de mulheres jovens têm a capacidade de reparar danos no DNA do espermatozoide após a fertilização). O uso da injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI) na fertilização in vitro pode até diminuir o impacto da idade masculina nos resultados da reprodução assistida, mas quando o homem é mais velho, as taxas de sucesso do tratamento também diminuem. Além disso, as taxas de aborto, que já são mais altas em mulheres com mais de 35 anos, ficam ainda maiores quando o homem tem mais de 40 anos.
Como o envelhecimento afeta a fertilidade masculina
Os fatores associados ao envelhecimento que podem desempenhar um papel na diminuição do potencial reprodutivo dos homens incluem:
- Anormalidades hormonais, incluindo diminuição dos níveis de testosterona;
- Problemas sexuais, incluindo disfunção erétil e ejaculatória;
- Exposição acumulada a toxinas ambientais;
- Aumento do estresse oxidativo nas células espermáticas;
- Aumento da aneuploidia do espermatozoide;
- Aumento da gordura corporal e maiores taxas de obesidade do parceiro masculino e suas consequências na fertilidade;
- Aumento da incidência de problemas crônicos de saúde que podem afetar a fertilidade do parceiro (por exemplo, diabetes);
- Problemas de próstata, como câncer e hiperplasia benigna da próstata;
- Efeitos colaterais de medicações que o homem passe a precisar usar;
- Diminuição do volume ejaculado;
- Aumento da fragmentação do DNA do espermatozoide.
Fragmentação do DNA do espermatozoide e a idade paterna
Os níveis de fragmentação do DNA do espermatozoide aumentam consistentemente com o avanço da idade masculina, especialmente após os 40 anos:
Idade | % Fragmentação do DNA |
20-29 | 12,9 |
30-39 | 16,3 |
40-49 | 23,2 |
50-59 | 35,4 |
60-80 | 49,6 |
Risco aumentado de condições hereditárias
Já está estabelecido que os bebês de mães mais velhas têm um risco aumentado de defeitos congênitos e anormalidades cromossômicas. Mas, hoje já temos indicações de que a idade paterna também afeta as taxas de defeitos congênitos e outras anormalidades nos filhos gerados. A lista a seguir apresenta um resumo produzido a partir de um artigo publicado por Bergh e colegas em 2019 que revisou a relação entre o aumento da idade paterna e a saúde das crianças geradas:
Síndrome de Down – risco aumentado de 13% em homens com mais de 40 anos
Quaisquer defeitos congênitos – risco aumentado de 5% com idade paterna de 35 anos ou mais.
Fissuras orofaciais – risco aumentado de 14% nos filhos de homens com mais de 45 anos
Gastrosquise (defeito congênito da parede abdominal) – risco reduzido de 12% em homens com mais de 35 anos.
Qualquer câncer infantil – Risco fraco, mas significativamente aumentado de câncer infantil. 5-15% de aumento da chance em pais mais velhos versus homens <25 anos.
Leucemia e linfoma na infância – aumento de 4% no risco de leucemia linfocítica aguda em filhos de pais mais velhos.
Diabetes mellitus (DM) – Resultados conflitantes para DM do tipo I. Aumento fraco, mas significativo para DM do tipo II.
Asma- Aumento do risco nos filhos de pais mais jovens.
Autismo – O risco aumenta em 21% para cada 10 anos de aumento da idade masculina. O risco de ter um filho com autismo aumenta 39% no caso de pais com 55-59 anos.
Esquizofrenia – Homens com mais de 45 anos têm uma chance 38% maior de ter um filho com esquizofrenia
À medida que mais dados se acumulam, pode ser que no futuro as sociedades médicas passem a fornecer diretrizes sobre a idade paterna e a fertilidade masculina. Até lá procure se informar e, se possível e desejável, começar sua família de preferência antes dos 40.
A MF Fertilidade Masculina está sempre atualizada com as mais recentes tecnologias e desenvolvimentos científicos e terá o maior prazer em conhecê-lo para fornecer informações e soluções para sua fertilidade e saúde geral.
Referencias
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