Janeiro Branco

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Janeiro Branco – precisamos falar dos efeitos psicológicos da infertilidade masculina

Entre 48 milhões de casais e 186 milhões de indivíduos vivem com infertilidade em todo o mundo (WHO, 2018). Infelizmente, a saúde mental de uma pessoa pode ser afetada por sua capacidade – ou incapacidade – de conceber um filho. Os efeitos da infertilidade na saúde mental estão bem documentados nas mulheres. Estima-se que cerca de 40% das mulheres inférteis demonstram ansiedade e/ou depressão. No entanto, pouco se sabe sobre como a infertilidade afeta a saúde mental dos homens. Os homens podem ser afetados pela infertilidade de várias maneiras: por um diagnóstico de infertilidade, por ser parceiro de uma mulher infértil ou quando o casal sofre de infertilidade inexplicada.

Pesquisas recentes sobre o impacto da infertilidade nos homens tem confirmado a necessidade de reconhecer as necessidades emocionais dos homens. Embora em menor proporção que suas parceiras, os homens com infertilidade sofrem depressão e ansiedade significativas mas não recebem os mesmos recursos e informações que as mulheres inférteis. Por exemplo, homens em casais inférteis relatam maior sensação de perda e emoções negativas, estigma e menor qualidade de vida (QoL) quando o diagnóstico é infertilidade por fator masculino em oposição a infertilidade por fator inexplicável ou feminino. Complicando este cenário, a baixa QoL e o estresse associado afetam negativamente a espermatogênese e produção de testosterona com consequências para a função erétil (Coward et al, 2019).

Um estudo dinamarquês revelou que 28% dos homens em tratamento de fertilidade “acreditavam que a redução da qualidade do esperma afetava sua percepção de masculinidade”. Mesmo os médicos de infertilidade não estão livres da falsa noção de que a infertilidade é um problema das mulheres. O estudo revelou que 63% dos entrevistados afirmaram que os profissionais de saúde envolvidos se comunicavam primordialmente com suas parceiras, apesar de ambos estarem em tratamento de fertilidade. Além disso, 72% dos homens participantes disseram não possuir informações básicas sobre as consequências psicológicas da infertilidade de fator masculino. Mais de um terço disseram que os profissionais de saúde não lhes deram a oportunidade de discutir a experiência específica da infertilidade masculina  ou não se preocupavam em tratar de questões de sua jornada em busca da fertilidade (Mikkelsen et al., 2013).

Em geral, as pesquisas demonstram que os homens tendem a esconder suas emoções e sofrem em silencio, ao contrario das mulheres inférteis que comunicam sua angústia e tristeza com maior facilidade. Isso pode ser pelo menos parcialmente atribuído a quão estigmatizada a infertilidade masculina é na sociedade e ela se reflete na percepção da masculinidade. Fisiologicamente, as baixas contagem e motilidade de espermatozoides, medidas que são usadas para caracterizar a infertilidade masculina, estão muito mais associadas a distúrbios sexuais do que a infertilidade de fator feminino.  Isso leva as pessoas a confundir a infertilidade masculina com impotência.       

Esses dados constituem uma indicação clara da necessidade de discutir as consequências psicológicas da infertilidade masculina desde o início dos tratamentos de fertilidade e incluir recursos de saúde mental voltados para o homem infértil. Ou seja, é preciso tornar o espaço de educação sobre infertilidade mais inclusivo para os homens. E ainda representa uma grande oportunidade para os profissionais de saúde da fertilidade já que as pesquisas demonstram que a maioria dos homens se recusa a procurar ajuda psicoterápica e se abre com maior facilidade para os profissionais da área do que para amigos e familiares.

Dadas as tendências atuais da infertilidade por fator masculino é necessário que todos os homens – quer pretendam ter filhos agora ou daqui a 30 anos – pensem sobre a sua fertilidade. Embora muitos homens possam não querer ter aquela conversa difícil sobre fertilidade, falar sobre fertilidade masculina só os beneficiará. Quanto mais frequentes essas conversas, mais conhecimento será compartilhado e menos estigmatizada será a infertilidade masculina, o que também contribuirá para reduzir o risco de efeitos psicológicos.

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