No final de outubro de 2021, um estudo da equipe de cientistas de Tony De Falco do Cincinnati Children’s Medical Hospital nos EUA desvendou outra peça no quebra-cabeça pouco explorado da infertilidade masculina. Os cientistas descobriram que o gene Cdc42, que está normalmente envolvido no estabelecimento da polaridade e divisão celulares, está também intimamente implicado na produção de esperma.

O estudo se concentrou na função das células de Sertoli, que se alinham ao longo das paredes internas de longos tubos encontrados nos testículos conhecidos como túbulos seminíferos, nos quais ocorre a produção de espermatozoides. As células de Sertoli atuam como estações de fornecimento de nutrientes para os espermatozoides em desenvolvimento.

Estudando camundongos, os cientistas descobriram que quando o gene Cdc42 está ausente ou não funciona, as células de Sertoli morrem ou se orientam incorretamente dentro dos túbulos seminíferos, afetando assim  a nutrição das células precursoras do esperma. O resultado final é a redução da capacidade dos testículos de produzir um suprimento contínuo de esperma. Importantemente, a interrupção da produção de espermatozoides conectada a falhas nesse gene ocorre somente em testículos de adultos mas não em testículos juvenis.

Por que essa descoberta sobre o papel do gene Cdc42 nas células de Sertoli é importante?  A infertilidade masculina tem um papel tão relevante quanto a feminina mas pouco sabemos sobre os fatores que a afetam. Por exemplo, ainda não sabemos quantos casos de infertilidade podem ser atribuídos às células de Sertoli com mau funcionamento, mas, em tese, os tratamentos que poderiam melhorar a função dessas células também melhorariam a produção de espermatozoides.

Tentar alterar diretamente o gene Cdc42 provavelmente não será uma opção, pelo menos não a curto prazo. Isso ocorre porque o Cdc42 desempenha muitas outras funções no organismo e seria difícil atingir esse gene especificamente no testículo sem afetar outras células de outros órgãos. Além disso, mesmo que um tratamento possa ser limitado às células de Sertoli, qualquer variação genética resultante teria um risco significativo de ser transportada para as gerações futuras, incluindo efeitos colaterais potencialmente desconhecidos. Entretanto, essa descoberta pode ajudar a desenvolver testes diagnósticos para identificar causas específicas da infertilidade masculina. Atualmente, o diagnóstico de mau funcionamento das células de Sertoli requer uma biópsia.  Se um teste não invasivo pudesse mostrar que um menino tem o gene Cdc42 defeituoso ou ausente e, portanto, um alto risco de desenvolver células de Sertoli desalinhadas na idade adulta, ele poderia se beneficiar do congelamento de tecido testicular ou esperma ainda jovem para usar posteriormente.

MF Fertilidade Masculina

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Referências

Heinrich, A., et al. (2021) Cdc42 activity in Sertoli cells is essential for maintenance of spermatogenesis. Cell Reports. doi.org/10.1016/j.celrep.2021.10988