Testosterona e fertilidade

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Testosterona e fertilidade: mais não é necessariamente melhor

Obviamente a testosterona faz muito bem para o homem. Ela é produzida nos testículos e está envolvida no desenvolvimento muscular e ósseo, no crescimento do cabelo e desenvolvimento de órgãos sexuais além de contribuir para a sensação de bem-estar geral e função sexual. A testosterona é essencial para alguns aspectos do processo de produção dos espermatozoides (espermatogênese) particularmente na divisão e diferenciação das células que gerarão os futuros espermatozoides.

A produção de espermatozoides nos testículos e da testosterona depende também dos níveis do hormônio folículo-estimulante (FSH) e do hormônio luteinizante (LH) produzidos pela glândula Pituitária (ou Hipófise) no cérebro.  O LH instrui as células de Leydig no testículo a produzirem testosterona. A testosterona é a principal chave para “ligar” a espermatogênese. Já o FSH é o principal responsável pela qualidade e quantidade de espermtozoides mantendo a função de suporte das células de Sertoli. Essas células nutrem os espermatozoides nascentes, secretam vários hormônios e formam a barreira entre o sangue e os espermatozoides protegendo-os de possíveis ataques do sistema imune. 

A Pituitária usa, entre outros, os níveis de testosterona no sangue para determinar quanto FSH e LH vai liberar e, portanto, como controlará a produção de testosterona e espermatozoides pelo testículo.

Mais não é necessariamente melhor

Os níveis de testosterona no sangue podem diminuir com  o envelhecimento, a obesidade, por causa de lesões testiculares, consumo excessivo de álcool e tabaco, uso crônico de narcóticos ,ou como consequência da diabetes ou de quimioterapia para o câncer, ou até mesmo pelo estresse da vida moderna e outros estilos de vida pouco saudáveis.

Muitos homens com baixos níveis de testosterona procuram a terapia de reposição de testosterona por seus efeitos positivos em aspectos da saúde e bem-estar tais como fadiga crônica, depressão, baixa libido, entre outros. Esses benefícios talvez expliquem por que o número de homens entre 18 a 45 anos fazendo reposição de testosterona quadruplicou entre 2003 e 2013. Entretanto, homens fazendo terapia de reposição de testosterona tem chegado aos consultórios com quadros de azoospermia (zero espermatozóides no ejaculado) ou oligospermia (poucos espermatozoides no ejaculado). O que está acontecendo?

Quando um homem faz reposição de testosterona, sua Pituitária acredita que o testículo está funcionando a pleno vapor e não precisa induzir a secreção de FSH e LH. Com o FSH e o LH suprimidos, a produção própria de testosterona nos testículos é reduzida. A testosterona intra-testicular necessária para manter a espermatogênese normal é 100 a 1000 vezes maior do que os níveis de testosterona no sangue. A supressão da produção de testosterona pelo testículo devido a falta do estímulo do FSH e LH faz com que os níveis de testosterona intra-testiculares sejam os mesmos do sangue prejudicando de modo grave a espermatogênese. É bom lembrar que a testosterona é tão impactante na produção de esperma que seu possível uso como contraceptivo tem sido pesquisado e debatido.

Se o testículo fosse uma orquídea, a pituitária seria a jardineira

Usemos uma analogia. Imagine que o testículo é uma orquídea. Para florescer, ela precisa da quantidade adequada de água e luz solar (luz indireta, é claro). E para que um testículo produza esperma, ele precisa da quantidade adequada de testosterona (água) e do FSH (luz solar). O testículo pode até produzir espermatozóides apenas com água ou apenas com luz solar, mas apenas em quantidades e contagens reduzidas.

Bem, a jardineira que cuida dessa orquídea é a glândula pituitária, controlando a água (testosterona) e luz solar (FSH) para a orquídea (testículo). A única peculiaridade desta jardineira é que ela só pode dar à orquídea água e luz solar juntas, e não separadamente. Mas para essa decisão, a jardineira pituitária se baseia apenas na quantidade de água (testosterona) disponível à orquídea.

Um dia vem uma grande chuva (equivalendo à suplementação com testosterona pelo homem).  A jardineira raciocina: “Muita água aqui, não há necessidade de adicionar mais água (ou luz solar)”. O problema é que a orquídea pode já ter bastante água (testosterona), mas ainda precisa de luz solar (FSH) para florescer, que é justamente o que a jardineira não vai fornecer.  Nessa situação, a orquídea subsistirá, mas não florescerá, assim como o testículo subsistirá, mas não produzirá espermatozoides suficientes. Até que retorne o equilíbrio da testosterona e FSH  após a interrupção da reposição de testosterona, a contagem de espermatozóides desse homem provavelmente será baixa ou mesmo zero. 

Níveis baixos de testosterona: e agora?

É preciso entender que níveis baixos de testosterona no sangue não necessariamente indicam que a fertilidade esteja comprometida.  Como indicado anteriormente, os níveis de testosterona nos testículos, onde os espermatozoides são produzidos, são bem maiores do que os níveis de testosterona no sangue. Mesmo homens com níveis sanguíneos de testosterona baixos ou limítrofes podem ter níveis de testosterona intra-testiculares suficientes para a produção de espermatozoides.  Seus exames seminais e painel hormonal esclarecerão essa questão.

Se voce tem testosterona baixa, ainda não faz reposição hormonal e pretende manter e/ou melhorar sua fertilidade, considere  primeiro melhorar seu estilo de vida.  Não exponha seus testículos e escroto a altas temperaturas. Evite banheiras de hidromassagem e saunas e mantenha seu notebook fora do seu colo. Pare de fumar, reduza consideravelmente o consumo de álcool, perca peso, faça exercícios e melhore a qualidade do sono almejando entre 7-8 horas por noite.

Converse com seu médico sobre outras maneiras de aumentar os níveis de testosterona sem afetar negativamente os níveis de FSH ou a produção de esperma.  Uma outra opção seria congelar o esperma antes de iniciar a reposição de testosterona para preservar sua capacidade de ter filhos biológicos. 

Se você estiver fazendo suplementação com testosterona, seu médico de fertilidade muito provavelmente recomendará que pare de usar testosterona. Estudos já mostraram que, após a interrupção da reposição, a produção de espermatozoides aumentará em cerca de 6 meses, podendo acontecer antes ou depois desse prazo (infelizmente alguns homens não retomam a produção de espermatozoides sem tratamento específico).

Questões de fertilidade à parte, saiba que normalizar e monitorar os níveis de testosterona requer a sabedoria de um especialista em saúde masculina. A palavra-chave é equilíbrio. Você pode conseguir isso cuidando de si mesmo e tratando seu corpo como um templo. E aí é só observar sua orquídea florescer!

A MF Fertilidade Masculina está sempre atualizada com as mais recentes tecnologias e desenvolvimentos científicos e terá o maior prazer em conhecê-lo para fornecer informações e soluções para sua fertilidade e saúde geral. Entre em contato!


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