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Acima do peso ou obeso e quer ser pai? Como a obesidade e o excesso de peso estão relacionados à infertilidade masculina

Um homem acima do peso ou obeso pode ter dificuldades para gerar um bebê. De fato, alguns estudos alegam que homens 9 kg acima do seu peso ideal já são 10% mais propensos a desenvolver infertilidade. Como assim?

A obesidade interfere na performance sexual

De forma geral, homens obesos/acima do peso frequentemente possuem menor interesse no sexo e redução da performance sexual. Uma causa comum é a disfunção erétil que acompanha muitos homens obesos.  A obesidade pode levar à disfunção erétil pela redução dos níveis de testosterona (mais sobre isso abaixo) e levar à uma condição inflamatória sistêmica através da liberação de citocinas inflamatórias pelo tecido adiposo. Esses mediadores inflamatórios induzem a disfunção endotelial, ou seja, danificam as células que revestem os vasos sanguíneos envolvidas na sua tonicidade, complicando a ereção.

A obesidade afeta a temperatura escrotal

Pode parecer estranho, mas o calor está entre as principais causas de infertilidade nos homens. Os espermatozoides precisam de um ambiente testicular de dois a quatro graus abaixo da temperatura do corpo para sua produção e crescimento. No caso de homens obesos, as camadas de tecido adiposo na região da coxa e da virilha aumentam a temperatura dos testículos, afetando negativamente a quantidade e qualidade dos espermatozoides.

A obesidade  aumenta o estrogênio e reduz a testosterona e o número de espermatozoides

Existe uma prevalência de oligozoospermia (baixo número de espermatozoides em uma amostra de sêmen)  e azoospermia (ausência de espermatozoides no sêmen) entre homens  com sobrepeso e obesidade. Além disso, homens obesos têm baixos níveis de testosterona e altos níveis de estrogênio. Este desequilíbrio nos níveis hormonais diminui a produção de espermatozoides. Como  esses elementos estão interligados?

Nos homens, cerca de 15% dos estrogênios circulantes são produzidos no testículo e o restante é gerado a partir de andrógenos nos tecidos periféricos através da atividade da enzima aromatase, a qual converte testosterona em estradiol (a forma de  estrogênio mais ativa). O tecido adiposo é rico em aromatase e portanto, grande conversor de testosterona em estradiol.

Nas células testiculares, o estradiol regula vários aspectos da espermatogênese (mecanismo de produção de espermatozoides), incluindo proliferação, diferenciação, sobrevivência e a morte (apoptose) das células germinativas, que darão origem aos espermatozoides. Por exemplo, o estradiol em excesso bloqueia a regeneração das células de Leydig e inibe a produção de testosterona por essas células. Nos ductos eferentes, o estradiol está envolvido na reabsorção de fluidos, afetando assim a concentração, motilidade e morfologia dos espermatozoides.

Receptores de estrogênio também existem no hipotálamo masculino e assim, níveis aumentados de estrogênio em homens obesos provocam o mecanismo de feedback negativo e inibem a liberação pulsátil do Hormônio Liberador de Gonadotropinas (conhecido como GnRH). Isso, por sua vez, afeta a liberação de LH e FSH pela hipófise, que são os hormônios importantes para a esteroidogênese (mecanismo de produção de hormônios esteroides) e a espermatogênese.

Altos níveis de insulina em homens obesos com resistência à insulina podem diminuir os níveis da Globulina Ligadora de Hormônios Sexuais (conhecida como SHBG) e a síntese de testosterona  – ambas necessárias para a espermatogênese normal.

As células do tecido adiposo de homens obesos também  aumentam  a secreção do hormônio Leptina que tem função central na homeostase da ingestão e gasto energético. E o excesso de leptina  pode inibir a produção de testosterona pelas células de Leydig e as funções testiculares. Altas concentrações de leptina foram encontradas em homens inférteis com azoospermia não obstrutiva, oligozoospermia e oligo-asteno-teratozoospermia (espermatozoides em baixo número, baixa motilidade e formato anormal).

A obesidade  afeta a função oxidativa normal e a integridade do DNA dos espermatozoides

A integridade do DNA dos espermatozoides é essencial para a capacidade de fertilização e a geração de uma gravidez bem-sucedida. O aumento do índice de fragmentação de DNA  espermático (porcentagem de espermatozoides com quebras e danos no  DNA nuclear em uma amostra de sêmen) tem sido associado a um índice de massa corporal alto. Taxas de fragmentação de DNA estão frequentemente altas quando o IMC  passa de  25, definido como sobrepeso, e ainda maiores em homens com IMC acima de 30, definido como obeso. Segundo o Vigitel Brasil 2020, a maioria dos homens brasileiros – 58, 9% – tem um IMC acima de 25.

Já é bem aceito que, na obesidade, a sobrecarga crônica de energia resulta em aumento da produção de  espécies reativas de oxigênio (ROS) e inflamação. O excesso desses radicais livres resulta em dano oxidativo de lipídios, proteínas e DNA. A oxidação de ácidos graxos poli-insaturados na membrana espermática causa a perda de potencial de membrana mitocondrial e fragmentação do DNA espermático.

Apesar dos efeitos nocivos da obesidade na saúde e na fertilidade, a boa notícia é que tratamentos diversos bem como mudanças no estilo de vida e consequente perda de peso podem ajudar homens obesos/com excesso de peso a recuperar sua fertilidade.

MF Fertilidade Masculina

MF Fertilidade Masculina é especializada em infertilidade masculina e oferece serviço laboratorial para a realização de exames, garantindo qualidade e procedência de resultados.

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