Fertilidade Masculina

Compartilhar artigo

Tudo o que você precisa saber sobre a forma do espermatozoide e como ela afeta sua fertilidade

O valor preditivo da morfologia (forma) do espermatozoide na fertilidade masculina foi proposto pela primeira vez por Thinus Kruger e colaboradores nos anos 80 e reforçado por um estudo publicado em 1992 na revista médica Lancet mostrando que homens com espermatozoides com formato anormal tinham chances menores de promover uma gravidez. Desde então o sêmen dos homens tem sido analisado quanto a forma e outras características na tentativa de avaliar a fertilidade masculina.

Portanto, se você descobriu recentemente que tem espermatozoides com morfologia anormal, provavelmente está se perguntando “O que isso significa?, “Como isso afeta minha fertilidade?”e, principalmente, “O que posso fazer sobre isso?” 

Primeiramente, o que é análise morfológica dos espermatozoides?

A morfologia do esperma refere-se à forma e ao tamanho dos espermatozoides observados ao microscópio. Juntamente com a contagem e a motilidade dos espermatozoides, a morfologia é fator importante na análise completa do sêmen para avaliar a fertilidade do homem. A forma indica quão adequados foram a espermatogênese (processo de produção de espermatozoides) e a maturação dos espermatozoides. 

A análise morfológica avalia a forma e a aparência da cabeça, da peça intermediária (segmento entre a cabeça e a cauda como se fosse um “pescoço”) e da cauda dos espermatozoides. A cabeça carrega o DNA do espermatozoide além de enzimas para dissolver a membrana externa do óvulo e fertilizá-lo. A peça intermediária contém enzimas e múltiplas mitocôndrias que fornecem energia ao espermatozoide para a jornada através aparato reprodutivo do homem e da mulher. A cauda é composta de fibras de proteína e capacita o espermatozóide a nadar em busca do óvulo.

Essa análise baseia-se nos critérios dispostos por Thinus Kruger ou nos critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os critérios de Kruger consideram qualquer irregularidade no espermatozoide como anormal enquanto os da OMS são mais brandos e não classificam tantos espermatozoides como anormais.

A verdade é que até hoje o papel da forma do esperma não é totalmente compreendido. Afinal as análises variam numa mesma amostra de sêmen, entre laboratórios diferentes ou no mesmo laboratório usando as mesmas técnicas de avaliação. O importante é notar que quando o homem tem uma alta proporção de espermatozóides de formato anormal, provavelmente seu esperma também apresentará outras irregularidades como baixa contagem ou motilidade que são características demonstradamente mais relevantes para a fertilidade masculina.

O que é um espermatozoide de formato normal?

Um espermatozóide normal deve ter:

• Uma única cabeça lisa e oval (os anormais costumam ter cabeças grandes, minúsculas, ausentes ou múltiplas);

• Nenhuma gotícula ou gotículas de fluido na cabeça que, isoladamente ou em conjunto, sejam maiores que a metade do tamanho da cabeça do espermatozoide;

• Uma ponta da cabeça bem definida (acrossoma) e que cubra 40-70% da cabeça inteira do espermatozoide;

• Nenhuma anormalidade visível na peça intermediária ou cauda (os anormais costumam ter “pescoços” finos, grossos, curtos ou longos demais  além de caudas curtas, longas, múltiplas ou retorcidas).

Se um espermatozóide de formato anormal fertilizar o óvulo, isso significa que meu(inha) filho(a) terá um risco maior de ter anormalidades genéticas?

Normal ou anormal, assim que o espermatozoide entra no óvulo, a fertilização tem uma boa chance de ocorrer. Ainda não existem provas de que a estrutura do espermatozoide, sozinha, cause defeitos físicos ou mentais no bebê. 

Um espermatozóide com formato anormal pode fertilizar um óvulo?

Primeiramente é importante saber que todos os homens produzem espermatozoides anormais. Segundo as diretrizes de 2010 da  OMS, para estar dentro dos limites normais,  um homem deve ter pelo menos 5% de seus espermatozoides com formato adequado. Segundo os critérios de Kruger, o homem precisa ter pelo menos 14% dos espermatozoides com morfologia normal.

A presença de espermatozoides de forma anormal não necessariamente gerará impacto na fertilidade. Mais relevantes do que a forma estão o número e a concentração dos espermatozóides, o volume do sêmen, a porcentagem de espermatozóides vivos (viabilidade) e sua capacidade de locomoção (motilidade).  Um outro fator importantíssimo é o status de estresse oxidativo do esperma. Sabemos que homens que apresentam altas proporções de espermatozoides anormais produzem maiores quantidades de espécies reativas de oxigênio que, não contrapostas por antioxidantes e/ou enzimas antioxidantes, danificam as proteínas, destroem os lipídios das membranas celulares, induzem morte celular e quebram e danificam o DNA do espermatozoide.

Se um espermatozóide com formato anormal pode fertilizar um óvulo, por que o formato importa?

Ninguém sabe ao certo. Sabemos que homens com altas proporções de espermatozoides anormais tendem a ter mais problemas para engravidar sua parceira, mas não podemos dizer se essa dificuldade é causada pelo formato do espermatozoide ou por outro motivo que afete a fertilidade e a forma ao mesmo tempo. 

Existe alguma coisa que você possa fazer para melhorar a forma do seu esperma?

A morfologia espermática dependerá da idade, de fatores genéticos e do estilo de vida do homem.  Geralmente o esperma é saudável quando o homem é jovem, inclusive no que tange a forma. Para se valer dos benefícios da juventude, um homem poderia até congelar seus espermatozoides para uso futuro mas essa escolha normalmente só é justificada ou sugerida em alguns casos como antes de quimio ou radioterapia do câncer.  As pesquisas sobre os mecanismos genéticos da infertilidade masculina andam lentamente e, até hoje, apenas cerca de 10 genes foram identificados por afetar a morfologia do esperma. Infelizmente, não há formas claras de como atuar nesses genes para melhorar a morfologia dos espermatozoides. 

A maneira mais fácil de promover a qualidade dos seus espermatozoides, inclusive quanto a morfologia, é atuar no seu estilo de vida adotando uma alimentação saudável e controle do peso, boa higiene do sono, exercitar-se regularmente, evitar/eliminar o álcool, tabaco, cafeína e drogas, além de melhor gerenciar os estresses diários. Lembre-se que se expor a produtos químicos ou radiação também pode afetar a qualidade dos espermatozoides e, portanto, a fertilidade. Você também deve evitar expor seus testículos a temperaturas altas como na operação de fornos domésticos ou industriais ou usar roupas íntimas justas de tecidos sintéticos. Essas melhorias promoverão uma melhor saúde geral e aumentarão as chances do seu testículo de produzir mais espermatozoides saudáveis. 

A boa nova é que o testículo está sempre produzindo novos espermatozoides e, portanto, mudanças positivas no estilo de vida e as melhorias que trazem à sua fertilidade só dependem de você.  Lembre-se de que leva até 3 meses para que qualquer aprimoramento se traduza em melhorias na qualidade de seus espermatozoides.

A MF Fertilidade Masculina está sempre atualizada com as mais recentes tecnologias e desenvolvimentos científicos e terá o maior prazer em conhecê-lo para fornecer informações e soluções para sua fertilidade e saúde geral. Entre em contato!


Referências

Aziz, N., Buchan, I., Taylor, C., Kingsland, C. R., & Lewis-Jones, I. (1996). The sperm deformity index: a reliable predictor of the outcome of oocyte fertilization in vitro. Fertility and sterility, 66(6), 1000–1008. https://doi.org/10.1016/s0015-0282(16)58697-x

Check, M. L., Bollendorf, A., Check, J. H., & Katsoff, D. (2002). Reevaluation of the clinical importance of evaluating sperm morphology using strict criteria. Archives of andrology, 48(1), 1–3. https://doi.org/10.1080/014850102753385134

Cooper TG, Noonan E, von Eckardstein S, Auger J, Baker HWG, Behre HM, et al. World Health Organization reference values for human semen characteristics. Hum Reprod Update. 2010;16:231– 45. https://doi.org/10.1093/humupd/dmp048

Danis, R. B., & Samplaski, M. K. (2019). Sperm Morphology: History, Challenges, and Impact on Natural and Assisted Fertility. Current urology reports20(8), 43. https://doi.org/10.1007/s11934-019-0911-7

Durairajanayagam, D., Agarwal, A., & Ong, C. (2015). Causes, effects and molecular mechanisms of testicular heat stress. Reproductive biomedicine online30(1), 14–27. https://doi.org/10.1016/j.rbmo.2014.09.018

French DB, Sabanegh ES Jr, Goldfarb J, Desai N. Does severe teratozoospermia affect blastocyst formation, live birth rate, and other clinical outcome parameters in ICSI cycles? Fertil Steril. 2010;93:1097–103. https://doi.org/10.1016/j.fertnstert.2008.10. 051.

Guzick DS, Overstreet JW, Factor-Litvak P, Brazil CK, Nakajima ST, Coutifaris C, et al. Sperm morphology, motility, and concentra- tion in fertile and infertile men. N Engl J Med. 2001;345:1388–93. https://doi.org/10.1056/NEJMoa003005

Gatimel N, Moreau J, Parinaud J, Leandri RD. Sperm morphology: assessment, pathophysiology, clinical relevance, and state of the art in 2017. Andrology. 2017;5:845–62. https://doi.org/10.1111/andr. 12389. 

Grow, D. R., Oehninger, S., Seltman, H. J., Toner, J. P., Swanson, R. J., Kruger, T. F., & Muasher, S. J. (1994). Sperm morphology as diagnosed by strict criteria: probing the impact of teratozoospermia on fertilization rate and pregnancy outcome in a large in vitro fertilization population. Fertility and sterility, 62(3), 559–567. https://doi.org/10.1016/s0015-0282(16)56946-5

Guzick DS, Overstreet JW, Factor-Litvak P, Brazil CK, Nakajima ST, Coutifaris C, et al. Sperm morphology, motility, and concentration in fertile and infertile men. N Engl J Med. 2001;345:1388–93. https://doi.org/10.1056/NEJMoa003005

Hart, K., & Tadros, N. N. (2019). The role of environmental factors and lifestyle on male reproductive health, the epigenome, and resulting offspring. Panminerva medica61(2), 187–195. https://doi.org/10.23736/S0031-0808.18.03531-0

Keegan BR, Barton S, Sanchez X, Berkeley AS, Krey LC, Grifo J. Isolated teratozoospermia does not affect in vitro fertilization outcome and is not an indication for intracytoplasmic sperm injection. Fertil Steril. 2007;88:1583–8. https://doi.org/10.1016/j.fertnstert. 2007.01.057. 

Kovac JR, Smith RP, Cajipe M, Lamb DJ, Lipshultz LI. Men with a complete absence of normal sperm morphology exhibit high rates of success without assisted reproduction. Asian J Androl. 2017;19: 39–42. https://doi.org/10.4103/1008-682X.189211

Kruger, T. F., Acosta, A. A., Simmons, K. F., Swanson, R. J., Matta, J. F., & Oehninger, S. (1988). Predictive value of abnormal sperm morphology in in vitro fertilization. Fertility and sterility, 49(1), 112–117. https://doi.org/10.1016/s0015-0282(16)59660-5

Kruger, T. F., Menkveld, R., Stander, F. S., Lombard, C. J., Van der Merwe, J. P., van Zyl, J. A., & Smith, K. (1986). Sperm morphologic features as a prognostic factor in in vitro fertilization. Fertility and sterility, 46(6), 1118–1123. https://doi.org/10.1016/s0015-0282(16)49891-2

Mann, U., Shiff, B., & Patel, P. (2020). Reasons for worldwide decline in male fertility. Current opinion in urology30(3), 296–301. https://doi.org/10.1097/MOU.0000000000000745

Menkveld, R., Stander, F. S., Kotze, T. J., Kruger, T. F., & van Zyl, J. A. (1990). The evaluation of morphological characteristics of human spermatozoa according to stricter criteria. Human reproduction (Oxford, England), 5(5), 586–592. https://doi.org/10.1093/oxfordjournals.humrep.a137150

Nikbakht, R., & Saharkhiz, N. (2011). The influence of sperm morphology, total motile sperm count of semen and the number of motile sperm inseminated in sperm samples on the success of intrauterine insemination. International journal of fertility & sterility, 5(3), 168–173.

Ombelet, W., Menkveld, R., Kruger, T. F., & Steeno, O. (1995). Sperm morphology assessment: historical review in relation to fertility. Human reproduction update, 1(6), 543–557. https://doi.org/10.1093/humupd/1.6.543

Organization WH. WHO laboratory manual for the examination and processing of human semen. 5th ed. Geneva; 2010. 

Palermo, G., Joris, H., Devroey, P., & Van Steirteghem, A. C. (1992). Pregnancies after intracytoplasmic injection of single spermatozoon into an oocyte. Lancet (London, England), 340(8810), 17–18. https://doi.org/10.1016/0140-6736(92)92425-f

Parinaud, J., Mieusset, R., Vieitez, G., Labal, B., & Richoilley, G. (1993). Influence of sperm parameters on embryo quality. Fertility and sterility, 60(5), 888–892. https://doi.org/10.1016/s0015-0282(16)56292-x

Rato, L., Alves, M. G., Cavaco, J. E., & Oliveira, P. F. (2014). High-energy diets: a threat for male fertility?. Obesity reviews : an official journal of the International Association for the Study of Obesity15(12), 996–1007. https://doi.org/10.1111/obr.12226

Ray, P. F., Toure, A., Metzler-Guillemain, C., Mitchell, M. J., Arnoult, C., & Coutton, C. (2017). Genetic abnormalities leading to qualitative defects of sperm morphology or function. Clinical genetics91(2), 217–232. https://doi.org/10.1111/cge.12905

Ricci, E., Al Beitawi, S., Cipriani, S., Candiani, M., Chiaffarino, F., Viganò, P., Noli, S., & Parazzini, F. (2017). Semen quality and alcohol intake: a systematic review and meta-analysis. Reproductive biomedicine online34(1), 38–47. https://doi.org/10.1016/j.rbmo.2016.09.012

Robbins, W. A., Elashoff, D. A., Xun, L., Jia, J., Li, N., Wu, G., & Wei, F. (2005). Effect of lifestyle exposures on sperm aneuploidy. Cytogenetic and genome research111(3-4), 371–377. https://doi.org/10.1159/000086914

Terriou, P., Giorgetti, C., Auquier, P., Hans, E., Spach, J. L., Salzmann, J., & Roulier, R. (1997). Teratozoospermia influences fertilization rate in vitro but not embryo quality. Human reproduction (Oxford, England), 12(5), 1069–1072. https://doi.org/10.1093/humrep/12.5.1069

Weber, R. F., Dohle, G. R., & Romijn, J. C. (2005). Clinical laboratory evaluation of male subfertility. Advances in clinical chemistry40, 317–364. https://doi.org/10.1016/s0065-2423(05)40008-6

Assine nossa newsletter

Conteúdos relacionados