Álcool e Fertilidade

Compartilhar artigo

Saiba como o álcool afeta a fertilidade masculina

Já sabemos que a ingestão excessiva de álcool tem um impacto negativo na saúde geral como o aumento da incidência de doenças coronárias, acidente vascular cerebral e doenças hepáticas (doenças no fígado). No início dos anos 2000, alguns estudos encontraram uma associação entre a ingestão de álcool e a qualidade do sêmen. Desde então, alguns estudos não confirmaram essa associação enquanto outros revelaram resultados semelhantes. E a dúvida sobre esse efeito permaneceu por um tempo. Primeiro vamos explicar por que inconsistências entre estudos acontecem. É importante notar que a comparação entre esses estudos foi complicada porque as populações escolhidas para cada estudo e como os pesquisadores mediram a ingestão de álcool pelos participantes variaram consideravelmente. De fato, a maioria dos estudos abordou a ingestão média de álcool apenas fazendo algumas perguntas aos homens participantes e o consumo verdadeiro das pessoas nem sempre foi precisamente estabelecido. 

Entretanto, em 2014 o estudo de Jensen e colaboradores analisou um grande numero de homens (1.221) saudáveis entre 18 e 28 anos e descobriu que mesmo hábitos de consumo modestos – tão pouco quanto 5 bebidas por semana – afetaram negativamente a quantidade, a concentração e a morfologia (forma) dos espermatozoides desses jovens. Como você pode imaginar, quanto mais álcool esses jovens consumiam regularmente, mais graves foram os efeitos na qualidade do esperma. Então como a ingestão de álcool afeta esses parâmetros?

Efeito do álcool na produção de testosterona

Estudos já indicaram que a ingestão de álcool inibe diretamente a liberação do importante hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) pelo hipotálamo no cérebro. O GnRH atua nos receptores da glândula pituitária (ou hipófise) localizada no cérebro que então  libera os hormônios folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH). Como explicamos anteriormente neste blog, a produção de espermatozoides e da testosterona nos testículos depende dos níveis de FSH e LH produzidos pela pituitária.  O LH instrui células do testículo a produzirem testosterona que então “liga” a espermatogênese (processo de produção de espermatozoides). Já o FSH é o responsável pela qualidade e quantidade de espermatozoides mantendo a função de suporte das células de Sertoli (células que nutrem os espermatozoides nascentes). 

Além da redução dos níveis de testosterona, o álcool é tóxico para o testículo, destruindo-o gradualmente podendo levar à sua atrofia (redução de tamanho). A consequência disso é a redução da fertilidade podendo também dificultar a ereção durante o ato sexual. Obviamente esse efeito é mais pronunciado se a quantidade de álcool ingerido for maior. 

Infelizmente alguns estudos demonstraram que a redução nos níveis de testosterona (e suas consequências para a fertilidade) pode perdurar por dias mesmo após o consumo de pouco álcool. Isso ocorre em parte porque o álcool aumenta a capacidade do corpo de eliminar a testosterona do sangue e, em parte, porque o álcool também aumenta a capacidade natural do corpo de converter a testosterona em estrogênio (apesar da testosterona ser considerada um hormônio “masculino” e o estrogênio um hormônio “feminino”, ambos são encontrados em homens e mulheres sendo necessários para o funcionamento reprodutivo saudável. No entanto, homens saudáveis tem níveis maiores de testosterona e níveis menores de estrogênio do que as mulheres). 

É importante notar que o estrogênio precisa ficar em equilíbrio com a testosterona para viabilizar o desejo sexual (sim, a libido precisa do equilíbrio adequado da testosterona e do estrogênio!), a capacidade de ter uma ereção e a produção de espermatozoides. De fato, estudos sugerem que o estrogênio provavelmente é importante para o desenvolvimento e função das células de Leydig (que produzem testosterona), células de Sertoli (que nutrem os espermatozoides) e espermatogônias (células que gerarão os espermatozoides). Níveis altos de estrogênio podem retardar a produção de espermatozoides e dificultar a criação de espermatozoides saudáveis. Além disso, níveis aumentados de estrogênio podem afetar o equilíbrio de hormônios que são necessários para ajudar a obter uma ereção. Isso é especialmente verdadeiro se a testosterona do homem estiver baixa.

Efeito do álcool na qualidade dos espermatozoides

Como introduzido acima, o álcool reduz a produção da testosterona, do LH e FSH, o que leva à deterioração das células de Sertoli resultando em um menor número de espermatozóides e mais espermatozóides malformados que não conseguem nadar bem para alcançar o óvulo – em outras palavras, pior morfologia (forma) e motilidade. 

Um estudo publicado por Sermondade e colaboradores  acompanhou a análise do sêmen de um homem por 6 anos, à medida que ele gradualmente se tornava alcoólatra. No início, o homem tinha uma quantidade moderada de espermatozóides deformados e uma redução no número de seus espermatozóides. Com o tempo, isso progrediu para a perda completa da produção de espermatozóides (azoospermia).

Já é bem documentado que o consumo de álcool pode aumentar o estresse oxidativo por meio de diversos mecanismos, com sérias consequências para a saúde humana.  Mais recentemente, esses efeitos foram também identificados no esperma de modelos animais. Alguns estudos também confirmaram uma maior taxa de fragmentação do DNA dos espermatozoides de homens que consomem álcool em excesso.

Tratamento da infertilidade relacionada ao álcool

Os efeitos do álcool na fertilidade masculina podem ser revertidos quando o homem interrompe o consumo de álcool. No caso do homem no estudo de Sermondade que acabamos de mencionar, depois que o homem parou de beber, houve grande melhora na qualidade e no número de espermatozoides em apenas três meses.

Para resumir, o álcool pode reduzir drasticamente a fertilidade masculina, mas os efeitos são dose-dependentes e reversíveis: quanto mais um homem beber, pior será para sua fertilidade, e parar de beber regularmente pode melhorar drasticamente sua capacidade de conceber.

Se você está enfrentando infertilidade, um especialista em fertilidade masculina pode ajudá-lo a entender melhor o impacto que os fatores do estilo de vida têm na qualidade dos seus espermatozoides.

A MF Fertilidade Masculina está sempre atualizada com as mais recentes tecnologias e desenvolvimentos científicos e terá o maior prazer em conhecê-lo para fornecer informações e soluções para sua fertilidade e saúde geral. Entre em contato!


Referências

Cicero, T. J., Newman, K. S., Gerrity, M., Schmoeker, P. F., & Bell, R. D. (1982). Ethanol inhibits the naloxone-induced release of luteinizing hormone-releasing hormone from the hypothalamus of the male rat. Life sciences31(15), 1587–1596. https://doi.org/10.1016/0024-3205(82)90050-9

Emanuele, M. A., & Emanuele, N. V. (1998). Alcohol’s effects on male reproduction. Alcohol health and research world22(3), 195–201.

Finelli, R., Mottola, F., & Agarwal, A. (2021). Impact of Alcohol Consumption on Male Fertility Potential: A Narrative Review. International journal of environmental research and public health19(1), 328. https://doi.org/10.3390/ijerph19010328 

Guthauser, B., Boitrelle, F., Plat, A., Thiercelin, N., & Vialard, F. (2014). Chronic excessive alcohol consumption and male fertility: a case report on reversible azoospermia and a literature review. Alcohol and alcoholism (Oxford, Oxfordshire)49(1), 42–44. https://doi.org/10.1093/alcalc/agt133

Ilacqua, A., Izzo, G., Emerenziani, G. P., Baldari, C., & Aversa, A. (2018). Lifestyle and fertility: the influence of stress and quality of life on male fertility. Reproductive biology and endocrinology : RB&E16(1), 115. https://doi.org/10.1186/s12958-018-0436-9

Jensen, T. K., Gottschau, M., Madsen, J. O., Andersson, A. M., Lassen, T. H., Skakkebæk, N. E., Swan, S. H., Priskorn, L., Juul, A., & Jørgensen, N. (2014). Habitual alcohol consumption associated with reduced semen quality and changes in reproductive hormones; a cross-sectional study among 1221 young Danish men. BMJ open4(9), e005462. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2014-005462

Muthusami, K. R., & Chinnaswamy, P. (2005). Effect of chronic alcoholism on male fertility hormones and semen quality. Fertility and sterility84(4), 919–924. https://doi.org/10.1016/j.fertnstert.2005.04.025

Martini, A. C., Molina, R. I., Estofán, D., Senestrari, D., Fiol de Cuneo, M., & Ruiz, R. D. (2004). Effects of alcohol and cigarette consumption on human seminal quality. Fertility and sterility82(2), 374–377. https://doi.org/10.1016/j.fertnstert.2004.03.022

Li, Y., Lin, H., Li, Y., & Cao, J. (2011). Association between socio-psycho-behavioral factors and male semen quality: systematic review and meta-analyses. Fertility and sterility95(1), 116–123. https://doi.org/10.1016/j.fertnstert.2010.06.031

Liza O’Donnell, Kirsten M. Robertson, Margaret E. Jones, Evan R. Simpson, Estrogen and Spermatogenesis, Endocrine Reviews, Volume 22, Issue 3, 1 June 2001, Pages 289–318, https://doi.org/10.1210/edrv.22.3.0431

Marshburn, P. B., Sloan, C. S., & Hammond, M. G. (1989). Semen quality and association with coffee drinking, cigarette smoking, and ethanol consumption. Fertility and sterility52(1), 162–165. https://doi.org/10.1016/s0015-0282(16)60809-9

Oldereid, N. B., Rui, H., & Purvis, K. (1992). Life styles of men in barren couples and their relationship to sperm quality. International journal of fertility37(6), 343–349.

Povey, A. C., Clyma, J. A., McNamee, R., Moore, H. D., Baillie, H., Pacey, A. A., Cherry, N. M., & Participating Centres of Chaps-uk (2012). Modifiable and non-modifiable risk factors for poor semen quality: a case-referent study. Human reproduction (Oxford, England)27(9), 2799–2806. https://doi.org/10.1093/humrep/des183

Rowe, P. H., Racey, P. A., Shenton, J. C., Ellwood, M., & Lehane, J. (1974). Proceedings: Effects of acute administration of alcohol and barbiturates on plasma luteinizing hormone and testosterone in man. The Journal of endocrinology63(2), 50P–51P.

Salas-Huetos, A., Bulló, M., & Salas-Salvadó, J. (2017). Dietary patterns, foods and nutrients in male fertility parameters and fecundability: a systematic review of observational studies. Human reproduction update23(4), 371–389. https://doi.org/10.1093/humupd/dmx006

Sansone, A., Di Dato, C., de Angelis, C., Menafra, D., Pozza, C., Pivonello, R., Isidori, A., & Gianfrilli, D. (2018). Smoke, alcohol and drug addiction and male fertility. Reproductive biology and endocrinology : RB&E16(1), 3. https://doi.org/10.1186/s12958-018-0320-7

Sarkola, T., & Eriksson, C. J. (2003). Testosterone increases in men after a low dose of alcohol. Alcoholism, clinical and experimental research27(4), 682–685. https://doi.org/10.1097/01.ALC.0000060526.43976.68

Sermondade, N., Elloumi, H., Berthaut, I., Mathieu, E., Delarouzière, V., Ravel, C., & Mandelbaum, J. (2010). Progressive alcohol-induced sperm alterations leading to spermatogenic arrest, which was reversed after alcohol withdrawal. Reproductive biomedicine online20(3), 324–327. https://doi.org/10.1016/j.rbmo.2009.12.003

Assine nossa newsletter

Conteúdos relacionados